quinta-feira, novembro 08, 2007

E outra data...



Há um ano, por este dia, começou (sem eu saber) a existir vida em mim... Duas vidas.

Acordei serena, mas sabia que logo iria ficar com a neura. O telefone não tinha tocado ainda, mas a transferência estava marcada para as 13h. Até essa hora ainda podia tocar... Mas não tocou!

Dirigimo-nos á clinica e pelo caminho fui pensando que talvez não nos tivessem ligado por quererem dar-nos uma "má" noticia pessoalmente, mas pensei mesmo assim que não iria sofrer mais por antecipação. Coloquei-nos nas mãos de Deus. Ele havia de nos ajudar.

Chegados lá, pediram-nos para aguardar (procedimento normal, mas ainda assim...). Passado sensivelmente uma hora chamaram-nos. Dirigimo-nos á sala onde uns dias antes me tinham "aspirado os casulos". Mandaram-me vestir uma bata e aguardar. (Até aqui ainda não tinha visto o Dr.).

Por esta altura já tinhamos percebido que iria haver transferência e eu fui invadida por uma subita onda de felicidade.

Quando o Dr. veio, explicou-me que tinhamos conseguido 4 embriões; um do tipo I e três do tipo II, e que iriamos transferir um de cada tipo. Ok!

Quando ele vem com o cateter e mostra-me com um sorriso "está a ver? aqui estão dois embriões!". Bom, nessa altura eu sorri, mas até pensei que me poderia estar a enganar se quisesse, para mim aquele "líquido" até poderia ser água. E senti-me arrependida por não ter pedido para ver ao microscópio...

A transferência não doeu nadinha. Talvez pela onda de felicidade que se apoderou de mim. O processo "estava concluido" e até ali tinha corrido bem. Agora dependia do meu corpo e mais uma vez, de Deus.

As palavras do enfermeiro continuam a pairar na minha cabeça.
"Guarde religiosamente esta eco, aqui pode estar o inicio de duas vidas!"

Pagámos e saímos da clinica. Até hoje nunca mais lá voltámos (mas havemos de lá ir mostrar os "embriõezinhos") lol. Ficaram lá "dois manos" congelados. Ainda não pensámos sequer o que fazer, mas temos dois anos para decidir... Gostávamos de ter mais um... mas não sei...

As semanas que se seguiram foram de literalmente não fazer nenhum! Eu estava de baixa (por opção, mas o Dr. explicou-me que quanto mais repouso fizesse mais hipóteses tinha) e eu tinha que dar o meu melhor. Então nem comida eu fazia. Dias antes tinha-me dedicado á cozinha e fiz qualquer coisa como 6 ou 7 tipos de comida diferentes e dois tipos de sopa. Congelei tudo em doses (umas individuais outras para 2). Não queria falhar com nada e sabia que o L. estava a trabalhar e já bastava ele ter de se entender com a casa e com a roupa.

Na minha familia ninguém sabia de nada. Eu não queria, perante um possivel resultado negativo, ser alvo de olhares de pena e de palavras de consolo. Não queria mesmo.
Nem a minha Mãe soube... Ninguém!

Claro que o jogo psicológico que uma FIV impõe é bastante duro. Eu passava os dias deitada no sofá a ver tv e a comer. Só me levantava para ir ao wc. Estranhamente nessa altura emagreci um kg. Eu até pensei que devia ter engordado, mas não, porque os babes já estavam a "consumir" tudo o que havia. Mas a minha cabecinha estava a mil. Sem stress, mas... Eu via o Goucha, eu via novelas (até as brasileiras que detesto) eu via o Dr. Phill, eu via o programa da Oprah, eu via o Aladin e outros tantos no Disney chanel, eu via o VH1 e o MTV e... Fazia ponto cruz, rezava, rezava, rezava. Nunca fui pessoa de ir á Igreja, assisti até hoje a duas ou três missas. Mas tenho a minha Fé, que sempre me levou por bons caminhos. E desde o dia da punção eu tive sempre duas velas acesas á Nª Sra de Fátima. Dia e noite. Quando se apagavam, mesmo de noite lá ia eu muito devagar acender mais duas. Assim permaneceu até ao dia em que eles nasceram.

O Dr. Paulo disse-me para fazer o beta 12 dias após a transferência e eu aguentei 14! Não sei como, mas acho que tinha mesmo muito medo. Tinha medo do negativo, tinha medo do positivo, tinha medo de sonhar, tinha medo de começar tudo outra vez e ficar mal... Eu até tinha medo de respirar...

Nota: Estou a escrever esta estória agora porque quero que fique registado como tudo se passou, e porque não o fiz na altura, porque nem queria pensar!

3 comentários:

Carla Santos Alves disse...

GRANDE MULHER!!!!

...realmente so quem passa por elas é que sabe!

Bjs
Carla

AM disse...

Estou emocionada ... por ti, pelos meus 2 sobrinhos lindos e porque conseguiste transmitir tão bem o processo pelo qual passaste e no qual me revi em alguns pontos.
Agora saude e força para criar os vossos rebentos actuais e futuros(2 + 1 ou 2 + 2),
Xana

stardust disse...

Final muito feliz para essa história!

Beijocas 4*4