quarta-feira, outubro 31, 2007

A propósito...

Do programa de ontem de "As tardes da Júlia" (que não aprecio mas apanhei este tema) sinto necessidade de escrever...

Falou-se sobre o fantasma do aborto espontâneo, e como também eu já passei por ele, aqui vai!

Há quatro anos atrás, eu e o L. decidimos ter um filho. Já tinhamos conseguido reunir a estabilidade que pretendiamos para conseguir criar uma criança sem dificuldades, e pensávamos que era só "aquilo" e já estava! Análises para aqui, folicil para ali e a gravidez não havia meio de chegar...

Passado um ano (dia 2 de Dezembro de 2004), chegou a tão esperada novidade: eu estava grávida. E se por um lado fiquei um pouco apreensiva com a gravidez (não sei porquê, talvez pressentimento de Mãe) por outro fiquei muito feliz e só pensava... "este filho já ninguém me tira". Estava tão enganada!

Decidi levar um dia de cada vez, mas sempre com alguma ansiedade. Já o amava tanto... Tinhamos mais ou menos assente o nome; seria João Miguel (sim, algo nos dizia que era menino) e iria encher a nossa vida de cor e alegria.

Mas o sonho acabou bem rápido, e na véspera de Natal comecei a ter perdas. Percebi logo que o iria perder, porque na minha familia existe historial de aborto espontâneo na primeira gravidez (aconteceu com 2 das minhas irmãs).
Fiz várias ecos e o que via deixava-me sempre mais descansada, um bebé muito pequenino, com o tamanho de acordo com o tempo de gestação e com frequência cardíaca!

Até que decidi pedir uma segunda opinião e fui á cuf. Nessa noite soube que o meu bebé estava sem vida... dentro de mim...

O sonho tinha partido e eu estava desfeita (para não falar no L.).

Como sou uma pessoa mais ou menos optimista, ainda no hospital (internada a espera da curetagem) disse ao L. que a seguir tentaríamos outra vez e teríamos o nosso bebé tão desejado. Porque se tinha acontecido assim era porque tinha que ser e que tinhamos conseguido uma gravidez, era porque conseguiamos engravidar. A espera de um ano talvez se devesse ao tal stress de que todas ouviamos falar.

E assim no ciclo seguinte (que só aconteceu 3 longos meses depois)começámos nos treinos! Só que (e esta parte já conhecem) os meses foram passando um depois do outro e nada! Toda a gente me dizia que eu tinha que esquecer a gravidez que tinha tido (como?? tive 9 semanas grávida e vi o meu bebé várias vezes!!!) e que o melhor para isso era "arranjar outro bebé". Ok, eu cada vez que ouvia isto (e foram 2 anos a ouvir sempre a mesma coisa) escondia-me no meu canto e chorava... muito... mas longe de todos.

Hoje olho para trás e aceito o que me aconteceu. Mas não me esqueço do João. Nunca o tratei pelo nome como estou a fazer agora, mas agora consigo fazê-lo porque já conclui o luto. Uma coisa que eu tento pensar é que teve que ser assim porque a infertilidade era o unico modo de eu ter gémeos (que Amo mais que tudo), mas também penso que para isso a vida teve que me "sacrificar o meu primeiro filho".

É um turbilhão de sentimentos, porque eu não consigo deixar de pensar que tenho 3 filhos. E que algures lá longe uma estrelinha brilha só para nós! Mas quando olho para os gémeos tenho tendência para pensar como seria o João. Seria como o Pedro, parecido com o Pai, ou mais parecido com a Maria... Enfim... Esquecer?? Nunca! Mas também penso que se ele não tivesse partido, hoje não teria os manos. Quase que sinto que é como uma escolha, será que alguém me entende? Bom o certo é que eu tenho três filhos sim!!! Dois aqui ao meu lado e um lá no céu, á espera que um dia a Mãe volte para ele e consiga fazer com ele tudo o que faz com os manos.

E porque ainda dói, até já, com uma lágrima!

10 comentários:

rute29 disse...

Acho lindo que o incluas sempre no teu coração de mãe ...E só por isso ele vive em ti!!
BEIJOS

Diana Bento disse...

Um beijo grande, grande! :)

Sara CS disse...

Passei pela mesma experiência há 3 meses. Dói, sim.

Raquel disse...

És espectacular.... já tinha dito isso!

Um beijo enorme e um abraço apertado!

Rita disse...

A verdade é que aprendemos com a dor, não é?

Um grande beijinho

stardust disse...

Agora tesn 2 bons motivos para sorrir...

Beijocas

Bem Me Queres disse...

Como percebo bem o teu sentimento. A partida da Inês e do Tomás é um momento que está gravado no meu coração de forma tão intensa que jamais esquecerei. Venhma os filhos que vierem, os meus gémeos terão a sua presença bem marcada.
Felizmente, acredito, tal como tu acreditaste, que um dia voltarei a ser mãe. A esperança não nos abandona.
Beijinhos doces e tudo de bom

Unknown disse...

nunca se esquece

beijo grande
:)*

Micas disse...

Um graaaaaaande beijinho,

Inês

Tia Moky disse...

Lembro-me bem dessa altura pois eramos companheiras...
Deixo-te aqui um abraço forte!

Beijos

Moky